Sei que são esferas que bóiam
E que meus copos de vinho dão alguma vida.
Mas por que chorar,
Se daqui já vejo a chuva,
Com meus pés nus roçando o ar,
Com meu dedos acompanhando o fado
Da minha caneta bêbada que dança?
Condeno os meu olhos por terem te visto
Por antes disso não fecharem
Por antes disso não cegarem
Interrompendo, em algum ponto, o estímulo de minhas mãos.
Não sei para quem escrevo
Se me recuso então compor para ti
E me agarro a uma alcoólica fantasia
E vibro com o tremor choroso de meus lábios.
Com a opacidade lacrimada
Castigo os meus olhos por terem registrado
Tua pele de estrelas maceradas
Teu andar de criatura encantada
Teu sorriso de felicidade
Do qual já não faço parte.
Abro-me em recusa
E peço a ti a minha abolição.
E que meu sentimento termine
Tal qual uma simples música
E que este seja enterrado
Na mais distante Escócia
Às margens de um monstruoso lago
Comigo tocando uma impossível fúnebre ópera
Numa difícil gaita-de-foles.
Acompanhe-se do pôr-do-sol
Levando consigo toda a luz
Não iluminando mais os meus dias.
Que eu, repousado na lua,
Aguarde novas luminosas horas
Ou, para passar o tempo,
Eu me agarre a uma baleia
E atravesse os oceanos.
Que testemunhe eu partos salgados
Que eu fuja do inverno com os pássaros
Que procuram sua própria primavera.
Que pelo sangue dos meus pulsos tu te esvaias
Que do alto das nuvens
Despenques de minha alma
E que de tanto eu escrever
Tu passes de dentro de mim
Para detrás das palavras.
Eu te entrego para as fadas
Cuido de meus joelhos
Recolho meu olhar caído em alguma mesa
Ao lado de um romance de Jorge Amado.
Desligo as lâmpadas
Mudo de lugar os quadros
Volto a escrever para te tirar do quarto
Tua assombração alucina meu olfato.
Estou curado, eu sei.
Nunca mais vou beber...
Angelo A. P. Nascimento
(08 de agosto de 2001)
16 comentários:
Obrigado pela visita, as janelas sempre estarão abertas quando desejar entrar...
lindo texto... minha adoração: chuva, inspiração alguém que não se adora adoranto... fadas e desejos'
devo admitir que virei acompanhante de suas palavras'
abraços adoravel escritor'
E que de tanto eu escrever
Tu passes de dentro de mim
Para detrás das palavras.
Incrivel só isso!
Ai, gente, que dó! Pior que bêbado rejeitado não tem. Rejeição quando a gente está bêbado dói muito mais fundo na alma, não é?
Adorei: "E que de tanto eu escrever
Tu passes de dentro de mim
Para detrás das palavras."
Idolatrei:"Volto a escrever para te tirar do quarto
Tua assombração alucina meu olfato." (tem até tipo de refrão de música mesmo...)
Bjos!
Nossa, como você escreve bem! Já me vi nesta mesma situação. Apesar de ser triste, sempre é bom poder curtir sentimentos assim...
Abração :)
Nós apenas dizemos que não mais beberemos, até o próximo gole alcoolico de uma alma embebecida em total dor....
"Que eu testemunhe partos salgados
Que eu fuja do inverno com os pássaros
Que procuram sua própria primavera.
Que pelo sangue dos meus pulsos tu te esvaias
Que do alto das nuvens
Despenques de minha alma
E que de tanto eu escrever
Tu passes de dentro de mim
Para detrás das palavras."
Vontade de ler umas mil vezes para que essas palavras sejam gravadas em mim...
Lindo texto, mesmo!
Bjos
Debrucei-me na mesinha do micro só pra reler pela terceira vez seus versos, que não precisam de comentários, eles se bastam.
Não imagina como foi delicioso ler isso:
"Sei que são esferas que bóiam
E que meus copos de vinho dão alguma vida."
"Condeno os meu olhos por terem te visto
Por antes disso não fecharem
Por antes disso não cegarem."
"Castigo os meus olhos por terem registrado
Tua pele de estrelas maceradas
Teu andar de criatura encantada
Teu sorriso de felicidade
Do qual já não faço parte."
"E peço a ti a minha abolição.
E que meu sentimento termine
Tal qual uma simples música
E que este seja enterrado"
"Acompanhe-se do pôr-do-sol
Levando consigo toda a luz
Não iluminando mais os meus dias."
"Eu te entrego para as fadas"
Não precisava repetir partes do poema, mas repeti.. Pra que você percebesse que em todas as estrofes eu amei ler você.
Beijo gigante!
Simplesmente maravilhoso...adorei
Ta de parabéns
'Com a opacidade lacrimada
Castigo os meus olhos por terem registrado
Tua pele de estrelas maceradas
Teu andar de criatura encantada
Teu sorriso de felicidade
Do qual já não faço parte.'
se fosse mais perfeito estragava moço... adorei o ritmo do texto é gostoso , leve mas com intensidade na escrita ...otimo!
aparece aqui : www.daniilopes.blogspot.com
e aqui : www.porhjnao.blogspot.com
'
A bebida parece que toma o nosso corpo em momentos de refúgio para ajudar-nos a esquecer aquela que um dia já foi nossa fada.
É algo libertador, esse brinquedo chamado de "escrever". E desde os meus primeiros meses de vida que tenho essa doce ferramenta dentro de mim. Incrível.
Suas poesias são sempre belas. Apenas isso, meu caro.
Sim, a saudade presente nos meus últimos posts irá se resolver em breve. Ou não. Porque mesmo estando junto, sinto essa saudade gritante!
Um abraço forte e desculpe-me a "ausência".
adoreo seu texto. desculpa a invasao. estais convidado a visitar o meu.
abraços
leandro cardoso.
Você escreve muito bem! Parabéns!
Lindo texto!
Beijos
Belo texto e blog...
gostei da poesia, apesar de não ser tão fã de.
parabens
bêbado inspirado esse =D
qnt mais preso a alguem, mais caro sai a carta de alforria pro coração, né?
olá Angelo! obrigado mesmo pelo fantástico! muito gentil da sua parte. heheher. pode aparecer sempre viu. eu vou tar te seguindo. abraços..
leandro cardoso.
caramba Angelo!! Que poema original!! muito boom, caraa! Parabéns! A começar pelo nome do blog q me atraiu rss.
bjão, boa semana!!
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