domingo, 5 de julho de 2009

Chuva

(Praia da Ponta Negra - RN - em 03 de julho de 2009)


Queria poder entender a violenta sutileza que move o mundo e que funciona como algoz da minha vida. Pergunto ao meu café da manhã se ele se sente tão confuso quanto eu: pronto para ser devorado. Como são engraçadas as experiências se movendo, uma atrás da outra, mesmo parecendo que não saímos do canto, mas sofrendo e aprazerando-se das mais diversas situações.
Queria tanto compreender a complexidade satisfatória de minhas fantasias e dar um breque à procura e ficar assim como estou, parado, observando a solidez temporal, mas sem ansiedades, sem apertar contra o peito calejado tantas rosas hipotéticas.
Gostaria de me livrar dos pesos que se acorrentaram aos meus pensamentos e não ver o seu nome gravado neles, como algemas invisíveis que me impedem de dar continuidade à marcha inevitável de viver. É tão ridículo ver estes mesmos pensamentos tomarem forma e me digerirem a cada lágrima que brota desobedientemente, me dando o tamanho significante da situação.
Já não sei mais o que sou, depois que me acompanhei de sua ausência, de quantas amarras me prendem a circulação e forçam a asfixia das atitudes.
Tenho medo de dormir, desde o dia em que descobri que o escuro muda de forma e a massa de ar brinca mostrando os momentos que não vivemos. Estou tão cansado de luzes artificiais para espantar a noite! Queria que amanhecesse de verdade, de modo que eu não precisasse me convencer das lâmpadas.
(Apressa-te, dia, em meu auxílio, porque preciso de fotossínteses, de firmar novas raízes e o oxigênio dos grandes problemas já é por demais rarefeito.)
Até mesmo as minhas palavras são verdes diante da maturidade de minhas dores, acentuando a disritmia do sentir e extravasar. Creio que sou um invólucro de sensações, emoções tantas comprimidas. Sou pequeno para o muito que sinto. Tenho incomensuráveis medidas interiores e acho que, por isso, seja errado eu ser concreto.
Acredito que ser etéreo é um sonho, mas é de coerente idéia a minha personalidade plasmada. Determinados elementos têm a capacidade de reunir. Pergunto-me se você é a criatura que me condensa.
Apesar das distâncias, é por você que chovo todas as tardes no jardim de suas promessas.


Angelo A. P. Nascimento

(27 de maio de 2000)

5 comentários:

Paloma Flores disse...

Adorei o final. Muito bonito.
Acho que o meu café da manhã também se sente mal. Quanto amis perto da boca, acho que maior é o seu desespero. Somos todos assim, não somos? Estamos todos prestes a sermos devorados... E não temos mesmo muita saída. Meu café da manhã, pelo menos, nunca conseguiu sair correndo.
Não acho errado ser concreto. Mas a gente também não precisa se prender à concretude das coisas...

Anônimo disse...

Não temos saida alguma,somos devorados como os cafés da manhãs de todos os dias,meio sem saber o que estar por vir quando derrepente nhac..uma mordida e tudo se finda...

Carla Rocha disse...

Meu amigo! Qdo penso q/ vc se superou! Eita! Percebo q/ EU estou superada! rsrsrsr - Vc consegue de forma indiscutível devorar todos nós! Bjssssssssssss

Tamara Queiroz disse...

Nossa.

[um silêncio demorado]

Eu já não sei se releio de novo.

[reli]

Quanta beleza!

O meu favorito é:
Até mesmo as minhas palavras são verdes diante da maturidade de minhas dores, acentuando a disritmia do sentir e extravasar. Creio que sou um invólucro de sensações, emoções tantas comprimidas. Sou pequeno para o muito que sinto. Tenho incomensuráveis medidas interiores e acho que, por isso, seja errado eu ser concreto.

B-joletas

Tamara Queiroz disse...

PS: Natal, eita lugar bom. Tenho a saudade comigo.

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