sexta-feira, 26 de junho de 2009

Por que meus pés não me obedecem?

Make you feel my love - Adele

Sei dos sonhos, da dor e das flores
Sei das músicas que tocavam felizes e lentas
Sei de suas bobagens e sorrisos gratuitos
Sei de todos os abraços
De todos os olhares que se perderam janela afora
Das noites que demoramos a dormir
De tudo que enfim deixamos para trás.

Mas me responda:
Por que meus pés não me obedecem?

Sei da alegria agora tosca
Sei o que dizer para continuar civilizado
Sei da força que agora controla
Meus olhos na sua boca.

Sei de mim, parado aqui
E escrevo cartas e mais cartas
Onde tento dizer
O que não sei sentir.

[Por que meus pés não me obedecem?]
Angelo A. P. Nascimento

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Pequena lista das dores amorosas humanas

[Sentir algo estranho correr a espinha:
é essa a sensação de ver partir.
Uma sensação adrenérgica,
seguida de torpor e frio nas mãos,
bem própria daqueles que se drogam.]

Quero a obscuridão dos fundos oceânicos
e a sinfonia de pianos submersos.
Quero que destruam-se os demônios dessa alçada,
as fúrias e o desequilíbrio que carrego.
Quero o descanso,
mas não a morte, cama preparada.
Quero a tranquilidade de vidas cansadas
e, de fundo, uma música com vozes maternas.
Perco-me nas conversas de partilha,
nada de conforto.
Nada, a não ser cochilos e sonhos.
Dói-me sofrer o desentendimento.
Dói-me sofrer o fim das coisas
que não deveriam ser findas.
Dói-me não usar as palavras certas
e não ter o coração certo para tocar.
Dói-me buscar o que longe está,
em abrigos idosos,
viver sentimentos desacreditados pelo tempo.
Dói-me ser humano e experimentar dores divinas,
comportar e transbordar a afeição exata,
carregar o corpo
e procurar a alma,
escrever frases que não serão publicadas,
falar do sim, do não e da dor,
de sentir na veia licor de menta
e sentir os braços ofegarem por abraços.
Dói-me ter no corpo a cabeça
e guardar os pulmões numa gaiola,
estar preso a simples religiões
e ter a certeza das abstratas orações.
Dói-me saber que termina
e poder ser feliz se começa.
Dói-me ver o futuro explodir de casulos
E virar breves asas do presente.
Dói-me ver a vida parcimoniosa
alimentando pombos tristes
com migalhas de felicidade.

Angelo A. P. Nascimento
(26.02.02)
Ps.: Porque toda tristeza é epígona ao amor

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Muitas vezes

Muitas vezes não sei o que sinto,
Apenas vejo-me preso à necessidade de juntar palavras
E mesmo que não tenham significado universo,
Para mim, elas falam.

Quando chove em mim,
Abrigo-me em versos
Tipo um diário-telhado
Que dá segurança ao meu grito.

Muitas vezes não sei o que sinto,
Apenas sinto,
Só isso...

Angelo A. P. Nascimento
(Janeiro de 2002)

A evolução da vidinha

Este texto aqui é uma resposta a um comentário feito em outro post, por Melke. Trata-se de um idéia bacana sobre o antes e o depois da minha vidinha universitária. Pois bem, eis a verdade...

Minha vida continua um desafio:
Ainda não sei cozinhar
Ainda não falo inglês, mas tenho que ler todo dia um monte de artigos científicos!
Não ando mais de ônibus (oh, glória!!!!)
Continuo muito alérgico
Ainda sou estudante, mas de pós-graduação
Trabalho mais ainda que antes
Ainda não sei pregar botão (nem quero mais aprender)
Ainda passo noites em claro
Economizo menos energia e telefone
Tenho um estetoscópio massa!
Continuo detestando a faculdade em dois horários (agora é um ministrando aula e outro horário assistindo aula)
Agora só durmo com quem posso (delícia!)
Almoço com bem mais que dois reais (mais delícia!)
Emagreci (dei trabalho), engordei (me aquietei), emagreci (voltei a dar trabalho) e ainda sou gordinho (me aquietei de novo)
Meus pais continuam separados
Acho Natal mais legal do que antes e Ano Novo também
Não tenho mais tempo de ler horóscopo de jornal (mas vez ou outra, olho o da internet)
Continuo adorando uma cervejinha (e whisky também!)
Conheci mais um tantão de gente chata e descobri que existem pessoas realmente muito ruins, mas também conheci muita gente bacana
Embora essas coisas tenham mudado,
Ainda faço poesia.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Vidinha

Achei essa poesia rabiscada em um caderno de quando eu cursava a universidade. Acredito que tenha sido em um dia bem tedioso, desses em que a gente conta mais desgraça que alegria. Ainda bem que, no meio de tudo, achei algo bom. Ela data de janeiro de 2002. Foi uma época bacana, de muitos sufocos e alegrias. Riqueza de experiência inigualável.
Essa veio do fundo do pâncreas e tem gosto de saudade!
Acredito que as palavras sempre vão me amparar.
Abraços!

Minha vida é um desafio:
Não sei cozinhar
Não falo inglês
Ando de ônibus
Sou muito alérgico
Sou estudante
Trabalho
Não sei pregar botão
Passo noites em claro
Economizo energia e telefone
Tenho um estetoscópio ruim
Detesto a faculdade em dois horários
Só durmo com quem não posso
Almoço com dois reais
E ainda sou gordinho
Meus pais são separados
Acho Natal e Ano Novo um saco
Leio horóscopo de jornal
Adoro uma cervejinha
Conheço tanta gente chata
Mas mesmo assim
Ainda faço poesia.

Angelo A. P. Nascimento

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Poeminha para aquilo que se espera na janela

Foto: Ana Castro (Disponível em http://www.flickr.com/photos/31325309@N00/16872799/)
Amor, quem dera bicicletas,
Carreira, brisa, som de sino,
Fim da expressão de espera.
Quem sabe, amor, congela
Esse tempo que nos mastiga
E não surge pressa.
Amor, quem dera não existir espaços,
Somente um só lugar que nos vela.
Quem dera, amor, quem dera,
Que tudo acontecesse conforme o que se reza,
Quem dera fôssemos os amantes derradeiros,
Quem dera pudéssemos guardar
A sensação do primeiro beijo
E seguir como linhas férreas,
Sempre paralelas,
Até alguma boa estação,
Onde os tantos sorrisos já não importam
Pois estaremos esperando um pelo outro
Com flores na mão,
Café no fogão
E rosto na janela.

Angelo A. P. Nascimento
(09 de maio de 2002)

domingo, 14 de junho de 2009

Sobre esperanças

Manter esperanças vivas
é como proteger velas
em ventanias:
mesmo sendo quase impossível,
o fazemos
instintivamente.
Angelo A. P. Nascimento

Existência

(Carnaval de 2009 - Não lembro o lugar da foto)


Foi-se o dia dos namorados e não postei nada, mas ainda estamos no fim de semana dos namorados, não é? Então fica a minha mensagem do fundo do pâncreas.

Abraços!

Amor por todo lugar!




Desenvolvi um aprendizado
Todo especial, ao te amar.
Aprendi segredos que nada
Carregavam mistérios em si;
Esperavam, sim, que estivéssemos
Com as vistas preparadas para olhar.
Ensinamentos gratuitos, delicados,
Guardados em flores,
Em pedaços de guardanapo,
Em músicas de antes despercebidas,
Em olhares agora orientados.
Aprendi um amor sensível,
Aprendi um amor claro,
Capaz de iluminar tudo.
Aprendi um amor de mãos dadas
E dedos entrelaçados.
Aprendi um amor sem relógio,
De cochilos e cócegas.
Aprendi um amor simples,
Tanto quanto o barulho e o silêncio,
O calor e o frio,
O sorriso e o olhar,
Onde cada um coexiste com o outro
Sabendo o seu lugar,
Exercendo suas funções sublimes
De casar e ainda existir.

(Te amo, sempre e de todas as maneiras)




Angelo A. P. Nascimento

quarta-feira, 10 de junho de 2009

domingo, 7 de junho de 2009

Descanso

O tirano descanso esquecido
De um corpo largado no canto
Sem chama.
Sem cobertor,
Sem outro corpo aquecido.

O tirano pesadelo submundo
Insólito e insípido
Inflamável e estúpido
Com agulhas, cateteres e navalhas.

O descanso aqui inscrito
Prossegue hibernável e divino,
Sinalizado por lápides e mármores frios.

Prossegue tênue
Amarrado à vida por um barbante.

E, no céu,
Minha consciência flutua,
Tipo pipa de menino,
Com rabiola colorida e vento,
E muito vento...



Angelo A. P. Nascimento

(2002)

Chão

(Céu de Natal -RN- um domingo em que a lua resolveu levar um sol)

O que não faço, abandonado,

É a ação do amor na contra-mão.

Tenho dias ensolarados

E, ainda assim,

Tenho frio nas mãos.

Tenho teto, consciência, chuva e solidão

Entre um passo e outro

Simplesmente não acho o chão.

Então, flutuo à deriva...

(Para onde vou,

Criaturas pequeninas?)


Angelo A. P. Nascimento

(Em outra época, sem chão e sem data)
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