sábado, 2 de maio de 2009

Sopro

As letras são largos pesos amarrados a meus pés
E escorrem rotas pela minha boca
Fixando-se viscosas em qualquer superfície.
Meus dedos escrevem sobre as águas
Notícias de jornais vencidos,
Passados senis que se enroscam em meu pescoço,
Forçando meu descanso em meio ao nada.

E tenho medo...
Medo de cair e não encontrar as mãos
Que prometeram estar lá.

Tenho medo da solidão acompanhada,
De telefones que não toquem,
De portas que não abram,
De palavras que não falem.

Tenho medo de feridas que não fechem,
De corpos que não se encontrem,
De visgos e mal-entendidos.

Tenho medo de mim mesmo,
Da minha paralisia que se rompe brusca,
Da minha saliva que berra seca,
Dos graves e agudos das dores que latejam.

Tenho medo do frio que venha a me agasalhar,
Das velas que acendo nas ventanias,
Das letras e dos recortes que assombram a minha alma.

Tenho medo dos meus dedos soltos
Que escrevem coisas que em mim se eternizam
E nos outros
Simplesmente se apagam.
(Sopro...)

Angelo A. P. Nascimento

2 comentários:

Unknown disse...

passei pra retribuir a visita, li, gostei. ótimo desfecho.
como me encontrou?
abs.

Anônimo disse...

Mas o medo pode ser uma mola para a mehora de nós mesmos... pode ser o propulsor de mudanças... se reconhecido, enfrentado e superado.
Aquele que nada teme, não ama a vida, pois não tem instinto de sobrevivência.


Precisamos marcar mais jogos.
Xerão.

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