segunda-feira, 16 de agosto de 2010

A função das janelas


Embora não se diga,
Eu tentei te esquecer
Falei com quem podia
E me calei para tantas outras pessoas
Que jamais entenderiam
Esse alçapão de bem querer mal quisto.

Experimentei todas as formas
De não lembrar
Escrevi cartas que você nunca irá ler
Mudei de casa
Dormi com pessoas
Que nunca quis que estivessem lá
E chorei tão baixo
Para que você não me escutasse.

Acerca de mim,
Descasquei a fina camada da espera das horas,
Fiz uma fogueira com todas as palavras
Que pudessem lhe dar alguma indulgência
E continuei vivo
Às custas do calor dela.

Ainda que não se saiba
É o amor que nunca foi embora
Enferrujando sobre o parapeito
Com todas as músicas
Que tocam lá fora de mim.

Espero impacientemente
O fim dessa dor que se exaspera
Já que por todos os lados
Existem pequenas e grandes janelas
E não há um só dia
Que eu não jogue
Toda a nossa impossível vida
Delas.

Ah, se não fossem as janelas...




Angelo A. P. Nascimento
(Esqueci a data: joguei pela janela)

4 comentários:

Anônimo disse...

Do fundo do meu coração ao fundo do teu pâncreas: obrigado pelo comentário no InterTextual. Penso que a mesma característica que você ressaltou no meu texto se aplica aos teus: fluência. Além de tudo, beleza.

Volte mais vezes a me visitar. Voltarei aqui.

Zélia Guardiano disse...

Show, Angelo! Show!
Adorei o seu poema e o seu espaço!
Virei sempre: sigo-te!
Grande abraço...

Mario disse...

Dizer-Te Parabéns pelas palavras!

Abração

Tiago Fagner disse...

Muuuuuuito bom! Angêlo, lembrou alguns dos grandes escritores brasileiros, você falou com verdade.
Abraço!

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