sábado, 29 de agosto de 2009

Penso ser tanta coisa que não pode haver tantos...

Eu sou a alegria que se encerra,
Sou a mensagem singela
Em um guardanapo amassado na carteira.

Sou a briga e a sequela,
Sou o ciúme, a revolta e a espera.
Sou a esperança abandonada,
A palavra que ficou entalada,
A atitude sufocada.

Sou o choro, o grito e a mágoa,
Sou o chaveiro e o incentivo,
Sou a omissão e o compromisso,
Sou o amor corrompido,
Sou a sombra pela casa.

Sou parte e sou nada,
Sou a sensação dilacerada,
Sou o herói vencido,
Sou a umidade e a neblina,
Sou o barulho na janela,
Sou a perturbação e a calma.

Sou o sofá e o cinzeiro,
Sou o livro na estante,
Sou o nome sem palavra.
Sou a música, sou seus pés,
Sou a dança descoordenada.
Sou a agonia que lancina,
Sou a dúvida assassina,
Sou a fé e o reinício das vidas mais desacreditadas.

Sou a mancha roxa no corpo,
Sou o filme no finalzinho,
Sou a mordida e o gemido,
Sou um chorinho tímido,
Sou o escândalo de graça.
Sou a imcompreensão e o incompreendido,
Sou o homem e o menino,
Sou o sentimento desvanecido,
Sou borboleta na vidraça.

Sou a oração desvirgulada,
Sou o sonho interrompido,
Sou o jantar de velas apagadas.
Sou a lágrima escorrida,
Sou o último olhar,
Sou a reação não tida,
A mentira e a desgraça,
O desespero e a covardia.

Sou o surto e a lucidez,
Sou a mácula e a chaga exposta,
Sou paralítico e apressado,
Sou um coração sem as válvulas.
Sou a prisão e não tenho muros,
Sou detento, feitor e carrasco
Sou o enjôo dos bêbados de sábado,
Sou a lamentação das missas de domingo.

Eu sou a rede que volta do mar vazia,
Sou o filho esquecido no pátio,
Sou o problema e a maestria
Dos passos mais complicados.

Sou a guerra e sou a fome,
Sou o que vem depois de uma hecatombe.
Sou cegonhas de papel,
Sou a gravidez distante,
Sou transeunte de rodoviária.

Sou a convulsão, o espasmo e a saliva,
Sou o orgulho, o rancor e o veneno que mata,
Sou a promessa e a praga,
Sou palpável ectoplasma.

Sou a placa de trânsito quebrada,
Sou a bola errada,
Sou a decepção e a traição,
Sou as pernas encolhidas e banhadas de lágrimas...

...Mas se eu fosse um passarinho,
Eu voava para bem longe daqui.
Angelo A. P. Nascimento

14 comentários:

Astréia disse...

Indiquei um selo para seu blog!

Sinta-se a vontade para postá-lo ou não! :)

Abraço!

Unknown disse...

Enquanto sabemos que somos, somos! Equanto queremos ser outro ser, outra coisa, parece que fugimos de nós mesmos. Sei lá... Parece que às vezes precisamos sumir de tudo, né?

Ah, sendo ou não, adorei sua poesia. Tenho uma parecida que postei no ano passado em meu blog. Dá uma olhada: http://nobreepigono.blogspot.com/2008/02/eu.html

Abraços!!

;D

Paloma Flores disse...

Pena, nessas horas, que a gente não tem asas de verdade. Só as de dentro...
"Sou a mordida e o gemido" Adorei!

Unknown disse...

Dualidade!

Vc foi montar essa complexidade nos minimos detalhes. Conseguiu ser complexo sem deixar de ser simples.
Muito legal msm.

Abraço

Astréia disse...

Adorei as antíteses, metáforas...Muito bom mesmo. Parabéns!!

Só um toque, dê uma olhada no endereço do blog que está errado, o certo é: htt://palavrasdevaneios.blogspot.com/
não tem o "e" no endereço.

Abraço!

Luna Sanchez disse...

"Sou seus pés", "Sou as pernas encolhidas e banhadas de lágrimas"

Dor e delícia, de ser tudo isso. Parabéns, gostei.

* Não que eu não tivesse nada para fazer, mas como gosto muito de peixes, aproveitei para alimentar os teus. ;)

Bom final de domingo.

ℓυηα

Anônimo disse...

...Mas se eu fosse um passarinho,
Eu voava para bem longe daqui.

eu tmb...mais pra bem longe mesmo....

DBorges disse...

Se estivesse aqui, do meu lado, enquanto eu lia seu poema.. Com certeza iria rir de mim.
Precisei ler em voz alta, reler e até copiei nos meus arquivos. Só pra evitar que se perca por ai, eu amei. Acho que nunca gostei tanto de alguma coisa sua qto agora.
E vou postar ele numa comunidade de poesias que faço parte, se você não se importar, claro.
(com os devidos créditos)

Meu caro, me surpreendeu.
Não por você ser ou não ser tudo isso que diz no poema, mas por escrever um texto que cabe em qualquer pessoa..
Eu sou ele, seu texto. Ele é nosso.
:)

nossa!
beijos

Cristiano Contreiras disse...

Além do visual exuberante, o blog é puro charme!

Sua poesia é real, verdadeira...
demonstra as variantes íntimas da alma humana!

vou te seguir, parabéns!


www.incensurados.blogspot.com
(só pra você ver, pois este é um blog secreto de poesias...)

até!

www.apimentario.blogspot.com

Eu, Thiago Assis disse...

[Respondendo à tua pergunta no meu blog: Meu estilo preferido de filme é Drama. Depois que vem Comédia e Terror ^^]

Ele é tudo (de ruim), sendo assim é entendivel a vontade de simplesmente sumir.
=]

Anônimo disse...

poxa obrigado pelo fantástico!! obrigado mesmo! fico feiz viu com o elogio de verdade!!! pode aparecer sempre!!1 vc estuda saúde pública? combinou bastante!!

abraços!!

leandro!

Anônimo disse...

Angelo

Realomente dá vontade de ler e reler, seu Blog está muito bom mesmo. Você nunca pensou em escrever um livro.
Parabéns, vou me tornar um seguidor para poder ler um pouco de suas obras e alimentar os peixes, muito legal.

Abração

Anônimo disse...

Olá Angelo

Foi uma grata surpresa visitar seu cantinho, muito bom gosto, confesso que li e reli.
Vou me tornar um seguidor seu para poder acompanhar sua obra e alimentar os peixes também...rs..rs.

Abração

Malu Paixão disse...

"Sou o surto e a lucidez,".. me identifiquei! rss
seu blog é ótimoo.. bjoo.. bom feriado pra vc!

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