“Lembra,
que o primeiro toque deu choque.”
(Dinda)
A vida é cansativa: é com essa frase que termino minha
sexta-feira. Dias penosos de fim de semestre, tripla jornada para quem é
professor e ainda atua atendendo pacientes. Alguém diria que a hora de fazer
isso é agora, que estou jovem, construindo uma vida, e até concordo, mas hoje
me permito ser diferente, me dou a liberdade de me sentir de maneira pouco
usual. Não posso ser todo locomotiva, vida a frente, o tempo inteiro.
Hoje chego, tudo escuro, silêncio preenchendo os vazios por
toda casa, salvo a alegria de minhas cadelas que insistem em me denotar
importância. Frequentemente diria isso em poesia, mas hoje pouco cabe em
versos, me arriscando em distinta prosa, cuja inabilidade fica visível. Hoje
não adestro palavras, elas correm soltas pelos meus braços, minha cabeça,
atravessam o coração com uma urgente necessidade de me dizer. Chegam a formigar
no meu abdome, na minha língua, que se mostra inútil. Não há plateia, não há
para quem falar da aula boa ou estressada, das situações que trabalhar na saúde
me abatem. Hoje vejo-me inundado de tantas humanidades, que percebo-me frágil.
Silente,
olho os dedos
Soltos,
sem encontro
As
horas que comem meus encantos
A
tristeza dos argumentos incompreendidos
E as
doces ilusões da televisão.
[Acabo
voltando aos versos...]
Angelo
Augusto Paula do Nascimento
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