domingo, 25 de julho de 2010

Minhas mãos

Eu não tenho milagres em minhas mãos
Ao contrário, tenho essa forçosa dor insistente
Tenho esses dedos renitentes
E linhas que se desalinham sem destino.

Eu tenho nelas
A sensação dormente de sua pele
A temperatura fria de seus cabelos
A pouca terra que seus pés deixaram para trás.

Tenho comigo o mormaço de sua boca
Tenho o desequilíbrio do balanço na rede da varanda
Tenho capturado os sons dos carros passados.

Eu não tenho nada de nobre no que sinto
Nada de justo ou coerente
Tenho essa tanta coisa que continuamente se esvazia
E me transforma em um desconhecido
Que apenas se afasta.

Angelo A. P. Nascimento

3 comentários:

Tamara Queiroz disse...

Que bonito.

Unknown disse...

"Eu não tenho nada de nobre no que sinto
Nada de justo ou coerente"

Me identifico muito!!

Abs!!

Ricardo Cambraia disse...

e agora me dê sua mão, não para te segurar, mas para me segurar. pancada esse teu poema. Creio que a terceira estrofe seja um sonho numa rede e que de repente vc acordou, essa foi a leitura que fiz [ ilusão]. Interessante as primeiras e quarta estrofes introduzirem e concluirem com um EU NÃO TENHO [realidade?] : a primeira a sensação de impotência, medo, quem sabe... a última reflete a consciência de uma situação e o insight do escritor sobre toda a situação, sobre si mesmo e sobre a tal coisa que se esvazia e me dá a impressão de que essa coisa parece como uma barragem que tem destruída sua parede, talvez pela força dágua, quem sabe, mas talvez uma parede corroída por formigueiros, toda esburacada e a água indo embora e o escritor é como a água que se afasta. analogia maluca essa minha... a segunda estrofe o escritor é o paciente e parece que de quem ama só recebe o que a matéria morta pode dar... sorry por fazer tantas considerações a seu poema, mas foi a minha leitura. apenas estou te passando como percebi. um abraço , querido.

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