domingo, 28 de agosto de 2011

Nós dois em retalhos



É como se fosse
Queda livre
Irrestrito acidente
Fraturas de mim
Pedaços
Estratos
Olhos seus
Que se misturam
A benzodiazepínicos
E dramins

É como se fosse
Apenas sempre despencar
Desmoronar
Todos os dias
Sem nunca poder dormir
E eternamente acordar

É como se fosse aconchego
E mesmo assim
Tudo teso
Esse grande desassossêgo
Sobre as minha pernas
Bailarinas paralíticas de patins

E como se fôssemos desconhecidos
Estranhos e ermos
Somos dois
Que não nos cruzamos
Impávidos e indefesos
Jurando-nos
Os donos de tudo
Que sentimos
Enfim...

Você jura aí
Eu juro aqui.
[Nós dois em retalhos]
Angelo A. P. Nascimento

domingo, 21 de agosto de 2011

Uma parte


A escuridão engole os pedaços
De alguma luz
Escondida embaixo
De seu abandono soturno

Carrego, então
Olhares tão pesados
Que acorrentam
Todo o inútil amor

E você
Não lutará por mim
Nem hoje
Nem amanhã
Nem outro dia

Pois é mais fácil
Dar as costas
Ao que ironicamente
É inegável

Olho o breu inestrelado
Seus beijos bastardos
Seus amores intranquilos
Minha insônia esquálida

E continuo
Sem aceitar
Que você não me tome
Nos braços
E que numa atitude impensada
Reacenda o candelabro
Dos meus olhos apagados.

Angelo A. P. Nascimento

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

A insuficiência perene das palavras


Eu compreendo
A insuficiência perene
Das palavras
E isso eu aceito
Pois se contristo
Anoiteço e amanheço
Em meio a valsinhas
E rodopios pela casa
Que sempre acabam
Abafando os meus ais

É que minha tristeza
Já foi menos feia
Tinha dias que chovia
Mas tinha dias
De sol na escadaria
Na soleira e no batente
Em que você sorria
Da forma mais linda

Olha
Eu não consigo escrever
Para você partir
Embora insistentemente
Componha para me esvaziar
Eu queria
Fazer o poema
Que tudo falasse
Da forma mais bonita
Ou que chorasse baixinho
Mas meu corpo se agita
E sobe-me os traços
De sua poesia

Jamais esqueço
De sua pele branca
Porcelana fria
E da lua
Que escondia
A força que se esvaia
E o meu amor
Que fraquejava vida afora

Eu sei
É preciso respeitar
As mudanças do tempo
E não há mais nada para falar
Mas eu falo...

Angelo A. P. Nascimento

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Apenas respire fundo

Eu tenho os teus olhos
Teu beijo
E teu retardo
Tuas provocações
Que me ignoram
E ainda assim me recitam
À tua revelia

Eu tenho
A tuas palavras não ditas
No teu silêncio insistente
Branca flor

Eu tenho esse amor
Em tempo frustro
Que te cria espanto
Em roseirais
Frios e sem capacidade
De se dar em perfume

Eu tenho a noite inteira
Para te pensar
O dia inteiro para te assombrar
E uma cidade inteira
De avenidas a nos cruzar

Nós temos jogos remotos
Balas perdidas
Abraços
E facadas

E eu tenho sangue nas mãos
Que escorre em poças
Nas quais pisas e afundas
E quanto mais te debates
Mais parece
Nos afogar

[Apenas respire fundo]

Angelo A. P. Nascimento


quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Jusqu'à quand?


Eu já escrevi sobre quase tudo
Que diz respeito à você
Escrevi sobre os seus ombros
Seus olhos
Suas costas
Sua língua
Dedos e cabelos
Escrevi sobre o que eu toquei
E sobre o que eu não consegui tocar
Escrevi sobre as palavras trocadas
As carícias guardadas
As raivas desconcertadas
E sobre aquilo que ninguém nunca poderá usar
Escrevi sobre o inatingível
Sobre o amor feliz
E sobre o nosso amor falido
Escrevi sobre os escritos
E reescrevi os recortes
De tudo aquilo que hoje é isso

Eu já te escrevi de ponta a ponta
Do físico ao subjetivo
Do entendido ao desentendido
Do encontro ao desencontro
E do que ficou
Pelo meio do caminho

Entretanto você folheia sem fim
Dentro de mim
E eu continuo a escrever
Sem saber se sou lido
Se sou eu
Ou é você esse livro
De rascunhos
Cores
Amores
E desalinhos.

Angelo A. P. Nascimento

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Gérbera

Foto: Angelo A. P. Nascimento

Gérberas são para te contar...

Angelo A. P. Nascimento

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Cabelos negros


Ora, a noite como cai

Ora, como ela a lembra e padece

Triste e soturna

Os seus cabelos negros

Que mesmo

Sem estrelas

Magicamente

Iluminam minha escuridão.

Angelo A. P. Nascimento
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